Nunca me preocupei muito com a minha queda de cabelo. Aliás, quando era adolescente a questão capilar coloca-se noutros moldes, ou seja, não havia penteado nenhum que me ficasse bem e como tenho dois remoinhos na cabeça, ficava sempre com a cabeleira cheia de "jeitos" quando esta começava a crescer em demasia. Assim, sempre usei o cabelo curto para tentar ter um aspeto decente. Mas nem com gel lá ia.
Com o passar do tempo, o mundo capilar mudou. Apareceram novos cortes, novas técnicas para moldar o cabelo e novas visões que encaravam este fator como um complemento ao estilo, à roupa, ou à personalidade. Mas eu continuava na minha, até porque fosse qual fosse o penteado que usasse, achava que nada me assentava bem, ou pelo menos como eu queria que assentasse, pelo que sempre odiei o meu cabelo.
Em 2007 começo a ouvir as primeiras bocas do estás a “ficar careca”. De “lá” para cá (2017) passaram-se dez (curtos) anos, mas o discurso dos outros manteve-se. Tiradas como “estás a ficar careca”, “usa umas ampolas que isso passa”, “olha, rapa tudo” e “estás a ficar com entradas” começaram a ser "dos discos mais pedidos" na minha vida. Chegou a um ponto, que já farto da conversa, respondia de uma forma mesmo simpática. Tipo, já berrava: “foda-se, já sei que estou a ficar careca porque já me disseram isso um milhão de vezes”.
Se no início, estava-me a “cagar” para o facto de estar a ficar careca, depois com tanto comentário, e tanto bom samaritano a “querer ajudar-me” com o meu problema capilar, comecei a ficar com traumas. Comecei a ver ampolas, a amaldiçoar a genética materna e a rezar para que os cabelos parassem de cair. No extremo, comecei a ver transplantes de cabelo, onde além dos valores exorbitantes que eram pedidos, as experiências que lia embatiam sempre sempre na questão da “dor” nos primeiros meses. E dor é coisa que me incomoda. Sou muito maricas ("yah, rigth") e antes de sentir qualquer coisa, pelo sim pelo não, já começo a tremer e a revirar os olhos.
No verão passado, vi um gajo todo grosso na praia com o cabelo todo rapado e de barba. Além das pernas pornográficas que tinha, e do rabo em mármore carrara, talhado por um profissional, tinha um ar giro. Simpático. Tinha bom aspeto. Ficava-lhe bem aquele “look”. Comentei com o meu miúdo, e quando chegámos a casa nesse dia, ele pegou na máquina do cabelo e rapou-me a cabeça a “pente 1” - eu pedi, ok?. Deixei ficar a barba para compor a coisa e até nem achei muito mal, o resultado final que via no espelho. Mas passados uns tempos, parecia que faltava ali qualquer coisa. Não sei. Parecia que não era eu e estava a sentir-me desconfortável. Ou se calhar era mesmo aquela sensação de estar a envelhecer, não sei. Ou então cenas da minha cabeça. Não sei. Só sei que estava diferente e talvez por isso não me tenha sentido bem.
Mas também que alternativas tenho? Ampolas não resultam e acho que é só gastar dinheiro… e transplantes soa-me a dor sem necessidade, além do gasto que isso implica… porque se 5000€ para a primeira intervenção é um balúrdio, imagine-se várias, sim porque para um tratamento eficaz são necessárias várias cirurgias. E a dor? Ó meu Deus, a dor! Prefiro ter prazer a ter dor, porque sempre fui muito picuinhas - ou guloso. Portanto tenho que comer e calar.
Enfim. Acho que ficar careca é mesmo uma inevitabilidade da minha vida e terei de aceitar esse facto, sendo que culpar os genes do meu avô materno… não me vai levar a lado nenhum. Ou pelo menos que me levasse ao Rio de Janeiro.