Perco horas no youtube a ver/ouvir músicas, a ver algumas curtas metragens, séries, programas de televisão e por aí a fora. Uma das coisas que também reparo, são os comentários. Então se forem vídeos portugueses (como o do Nilton a entrevistar a Daniela Mercury)... estão carregados de comentários de ódio de brasileiros, que por sua vez estão cheios de respostas de ódio de portugueses. Também existe o contrário, estejam descansados. Quando a estupidez encontra a estupidez, não há nada a fazer.
Um dos textos que mais me impressionou ler, foi de um norte-americano que dizia que estava a aprender português do Brasil, porque o português de Portugal era de um país "tão insignificante a nível mundial, tão pequeno, que só tinha 11 milhões de habitantes" e que nós portugueses tínhamos "um qualquer recalque". Bom, amigo, nem sei como te dizer isto, mas vamos lá a mais uma lista:
1. Primeiro, tenho que te dar os parabéns porque deves ser um dos poucos norte-americanos que sabe que existe Portugal. Bom, tu e a Madonna.
2. Depois, como português que vive em Portugal, devo-te dizer que dou graças a Deus porque não somos muito conhecidos mundialmente. Assim, ninguém dá pela nossa presença e podemos viajar para qualquer lado sem muitas perguntas. É claro que chego a Estocolmo, Berlim, Atenas ou Oslo, e digo que sou português, e as pessoas dizem-me logo "Eusébio", "Figo" ou "Cristiano Ronaldo" e eu fico chateado por percebem de onde venho (ou seja, maldito futebol que nos faz ficar conhecidos. E logo eu, que até odeio futebol). Ahhhh, e ultimamente também dizem "Salvador Sobral". Eu bem disse que ganhar a Eurovisão só ia dar chatices.
3. Nós vivemos aqui esquecidos na cauda da Europa. Muitos até julgam que somos um mito ou que somos uma região de Espanha. Não somos ricos, é um facto, mas também isso ajuda que ninguém nos queira. Por exemplo, por causa da guerra da Síria, decidimos receber um grupo de refugiados. A maior parte deles fugiu de Portugal. Eu percebo-os, também não queria ficar aqui se fosse refugiado. Onde é que já se viu, toda a gente a querer dar coisas, sem exigir nada em troca? Estavam a asfixiar as pessoas com tanto mimo, e todos sabemos que os refugiados não querem mimos, querem é ser explorados. Deixaram-nos ficar mal vistos, foi o que foi! Para a próxima temos que os prender com um cadeado a uma cadeira. Não podemos correr mais riscos. Também temos direito a ter refugiados, pah!
4. Outra coisa que nos ajuda a ficar esquecidos e insignificantes no mundo - graças a Deus - é que as novelas portuguesas (que são compradas aos magotes) são dobradas nas línguas nativas dos países onde são exibidas. Temos uma Diana Chaves a falar italiano, ou "espanhol das américas", ou até mesmo russo, e isso não nos incomoda nada. N-A-D-A-! Se não nos incomodamos que a Diana Chaves tente falar português de Portugal, vamos ficar chateados com o resto? Portanto, ninguém sabe que fazemos/exportamos novelas. Novelas são sempre brasileiras - e toda a gente sabe isso.
5. E é bom que ninguém aprenda português de Portugal, porque eu gosto de ir em viagem a falar mal de tudo, sem ninguém me perceber. Em França é sempre um risco, mas vale a pena. Aliás, quem é que nunca ia levando um murro na cara porque fez um comentário menos próprio, a um "estrangeiro" que afinal era português e percebeu exatamente o que estávamos a dizer? Adoro viver no limite. E é bom que os estrangeiros que aqui chegam, pensem que falamos italiano ou castelhano, porque respondemos sempre em inglês. Confuso? Não. Apenas gostamos de baralhar o sistema.
6. E só somos 11 milhões? Que tem? Achas pouco? Eu já acho demasiado. Somos é demais. O mundo não merece tamanho sofrimento. Mas olha, não fiques ainda mais chateado, mas aqui em Portugal não chegamos a 11 milhões... somos 10 e qualquer coisa. Tudo bem que na Diáspora portuguesa somos muitos mais, mas como diz a outra "isso agora não interessa nada".
7. E querido amigo americano, não sei se existe no português do Brasil, que estás a aprender com todo o afinco, a expressão "vai para o caralho", mas nós por aqui, quando queremos o bem de alguém (cof cof cof) mandamos logo para aí. Portanto: vai para o caralho, se faz favor. Sim, se faz favor, porque podemos ser insignificantes e "poucochinhos", mas somos educados - tirando os seguranças da discoteca Urban Beach em Lisboa.
E para um tipo como eu, que nunca teve qualquer tipo de problemas com brasileiros, seja aqui na blogosfera, seja na vida real, estas "agressões" verbais deixam-me um pouco chocado. Mas isto sou eu que tenho a mania que sou sensível.