Já escrevi tanto neste blogue sobre o dia dos namorados, que este ano ia deixar passar a data. Ia, mas já não vou. A Anabela enviou-me um e-mail. A Anabela gostava que escrevesse alguma coisa, sobre viúvos e viúvas no dia dos namorados, e mais especificamente, na comunidade LGBT+. Para o efeito, enviou-me um link sobre um projecto social que pretende diminuir um bocadinho da solidão que muitos têm neste dia (e não porque não gostam de estar sozinhos, mas porque a sociedade de consumo faz demasiado alarido sobre uma data, em que se tem de estar acompanhado, obrigando assim, a quem já deixou partir o amor da sua vida, recordar-se dessa pessoa, por vezes, de uma forma dolorosa).
Eu sou inexperiente nesta coisa do amor. Tenho 35 anos e vivo um relacionamento, digamos que recente. E afirmo "recente" porque a base de comparação que tenho, são os relacionamentos dos meus pais, dos meus avós, e todos aqueles que conheço e que já namoram/estão casados/vivem juntos, há milénios (mais de 20 anos é uma boa bitola). Também para quem lê este blogue, não é segredo nenhum, o arrependimento que tenho de ter "deixado partir" a minha avó, sem ter feito as pazes com ela. Antes deste momento, no ano anterior, vítima de um cancro na próstata, partiu o meu avô. Lembro-me perfeitamente do dia do seu enterro e de como a minha avó chorou. Se dúvidas tivesse, aquele momento provou-me que de facto o meu avô era o amor da vida dela. A verdade, é que na disputa familiar pelos bens e dinheiro (os humanos são uns bárbaros, uns egoístas e idiotas, quando se trata de partilhar as coisas dos outros), ela foi-se deixando ir. Perdeu o brilho nos olhos, e falava sozinha com ele, como se ele tivesse efetivamente ali (fisicamente falando). Lembro-me perfeitamente de a ver sentada no sofá, com vista para a colina, onde ela me dizia "Dé, gostava tanto do teu avô". Só sei que passado um ano, no mesmo mês, ela morreu. E eu não estava no país.
Portanto, pessoalmente, só sei o que é a dor de perder alguém, relativamente a pessoas que foram da minha família de sangue e afetiva. Isto é, nunca vi "partir" um namorado (ou um marido) e todos os meus ex's estão bem de saúde (e recomendam-se - uns mais que outros, né? Que isto de recomendar alguém nos dias de hoje tem muito que se lhe diga). Logo, por mais que tente extrapolar a situação, não sei realmente, o que é perder alguém que se tenha "escolhido" para partilhar uma vida. E nesta "vida de marinheiro" (que estava a dar cabo de mim) só conheci um rapaz que perdeu o namorado. E nunca mais foi o mesmo. Um luto custa sempre, mas há situações e situações. E não. Não vamos escalonar que a morte A custa menos que a morte B.
Tudo isto leva-me a concluir, que os meus medos da solidão são efetivamente legítimos, sendo que mais do que estar "solteiro", o problema é de ficar sozinho. Mas pronto, não quero tornar esta data, num dia de finados. Ide, ide, jantar fora, comprar rosas, dar uma queca monumental - porque na segunda já trabalhamos (e eu tenho que voltar para o meu calvário).
Nota final: a minha tia é viúva, amava muito o meu tio... mas anda a "aproveitar a vida". Segundo o meu pai (é irmã dele), até demais (LOL). Mas o que interessa aqui reter, é que somos animais sociais e não fomos feitos para estar sozinhos, mas que não precisamos de um 14 de Fevereiro, para dizermos às pessoas... que as amamos.