Apesar de querer estar sozinho, sinto-me sozinho. Sinto-me triste e abandonado. Todos têm as suas vidas bastante autónomas da minha, como resultado, não só, por ter estado num relacionamento de 14 anos com uma pessoa, mas também, e como é natural, terem construído os seus próprios percursos. Isto não quer dizer, que negligenciei os meus amigos, mas a verdade é que houve algum afastamento. Porque "estar" com outra pessoa, exigia também dedicação, e por vezes, escolhas. E da parte deles, também. Obviamente. Foi, e é, um caminho de dois sentidos.
Também, no meu universo de amigos gays, pelo menos os importantes, estou desfalcado. A maioria emigrou. Ou seja, estão longe. E apesar de me dizerem "podes contar comigo para tudo", sei que a distância pesa. É inevitável. É o que é. A juntar a este pormenor, há que referir que o meu "mano", e melhor amigo gay, morreu em 2019. Perda que ainda hoje não consegui processar. Entender. Aceitar. Mas isso irei falar na próxima sessão com a psicóloga.
Ou seja, vejo-me cada vez mais, com menos tempo. Mais sozinho. Menos perspetivas de ser feliz. Mais distante dos planos e rumos, que imaginei há 14 anos atrás. Ainda hoje dizia ao M. que: "gostaria de ter a minha família, sim. Mas agora ficou mais difícil. Já são 44 anos e fiquei sozinho. O tempo não para, nem volta para trás. Mas pronto". Isto a propósito se gostaria de ter filhos. Ele, fofo como é, tentava animar-me e respondia-me: "menino, nunca é tarde para ter uma família, não sabes o que o futuro te reserva. Não vais ficar sozinho. Pareces ser uma pessoa incrível e quando essa cabeça estiver no lugar, vai surgir outra pessoa na tua vida".
A verdade é que eu não quero mais ninguém. Nunca mais. Não compensa. A dor não compensa. A dedicação não compensa. A falta de lealdade não compensa. E vamos sempre acabar sós. Sozinhos. Porque confiámos e acreditámos, que um relacionamento pode ser durável, quando sabemos que hoje em dia - e em relações gays - não o é. Será sempre um tiro no escuro e acabaremos sempre na merda.
E se desta merda toda, há uma única coisa boa, foi ter conhecido o M. E disse-lhe isso mesmo: "estás a ser muito importante para mim". Ao que ele me respondeu: "tu estás também a fazer-me bem. Acredita".
Moço, tens 44 e eu tenho 50. Comecei "à procura" da minha família com 20 anos, a minha pessoa para a vida. E 30 anos depois e 9 namorados depois sozinho again. Mas desta vez estava com uma vibração de amor, nada pessimista. Acho que para isso ajudaram as férias na Grécia, com amigos e muitas surpresas que acabaram por ser um 'wake up call' espiritual. Vim sempre nessa vibração e ela foi ressonante com alguém a quem não dei importância no passado por achar que era mais um gajo a querer dizer-me o que eu queria ouvir. Desta vez dei. Por isso, não digas que é tarde. Se eu posso aos 50 anos, 2 meses depois de acabar uma relação por saber ter passado metade da mesma a ser "empalitado". Tu também podes aos 44. Não percas a fé. Nós não conseguimos encontrar aquilo em que não acreditamos.
ResponderEliminarEu não sei se não quero acreditar, ou se já não acredito de todo. Mas não tenho forças para passar por todo o processo. Por conhecer. Por apostar. Por cuidar. Por me apaixonar. Por amar. Por conhecer os amigos da outra pessoa e inserir-me nos seus núcleos de amizade. Gerar empatias. Conhecer a família. Estou cansado de tudo.
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