O caso da francesa Gisèle Pelicot é chocante. É ignóbil. É nojento. É aterrador. É tão surreal, que custa a acreditar que seja verdade, ou até mesmo que tenha acontecido. E mais grave fica, quando verificamos que parte da pessoa em quem mais se confiava. De alguém a quem entregámos a vida, e a quem permitimos que nos acompanhasse nela. Sem condições. Sem obstáculos. Sem medos.
Para madame Pelicot, a pessoa que estava ao seu lado, era o “homem perfeito”. Era o tal. O príncipe encantado que levava à cama, quando ela se sentia mal, o seu gelado favorito. Que a acompanhava às consultas médicas de neurologia, quando ela pensava que estava a enlouquecer (mesmo ele sabendo que era resultado das drogas que lhe dava). Que estava sempre ao seu lado, para o bem e para o mal. E sobre isso, pensava ela muitas vezes no “quão sortuda era por o ter ao seu lado”. O quão enganada estava.
O marido, agora acusado de promover a sua violação com outros homens na Internet, ao longo de quase dez anos (até 2022), onde a drogava, para que tudo acontecesse sem existir lembranças disso, pede desculpa, diz que nunca nunca recuperou da traição da sua mulher, há décadas atrás, etc, etc. Seja qual o motivo que arranje, nunca, mas nunca, haverá justificação para aquilo que fez. Que lhe fez. Para este comportamento doentio, onde destruiu a vida de uma pessoa. No presente caso, da sua mulher, que o amava.
Bem sei, que é difícil perdoar traições (eu sei!), mas neste caso, ela explicou os motivos, falaram sobre o assunto e ele aceitou continuar. Sublinho: resolveram continuar. Até porque não era "apenas" uma traição, mas sim, a opção de seguir, eventualmente, a vida com outra pessoa. E apesar de tudo, resolveram continuar juntos. E assim foi durante décadas. Não sei o que se passou em 2011, mas este comportamento de promover violações em série da sua mulher, drogando-a de forma a "esconder tudo", não é normal. É algo de uma pessoa muito doente e fora da realidade. De alguém sem consciência. Alheado de tudo. Sem empatia pelo próximo. Sem respeito pelo outro. Um nojento.
Concluo, que há pessoas más. Muito más. E que muitas delas, se encontram camufladas nos nossos círculos mais próximos, que nunca saberemos realmente do que são capazes de fazer e até onde podem ir. Até o dia, que somos obrigados a tomar uma dose valente de realidade. E esta falta de consideração extrema, com a pessoa com quem escolhemos partilhar uma vida, choca-me. Deixa-me triste. Derrotado. E para mim, o comportamento do marido de Gisèle Pelicot não tem explicação possível. Perdão. Não existe nada no mundo, que me faça entender isto. Da mesma forma que não consigo perceber a gratuitidade de algumas ações, que são feitas a pessoas a quem se diz amar. Gostar. Ter apreço. Não percebo a necessidade de destruir alguém só porque sim. Porque não se pensou nunca nas consequências. Não percebo. E nunca irei conseguir perceber. Nunca conheceremos as pessoas a 100%, e estas terão sempre o condão de nos surpreender pela negativa.
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