Não quero estar aqui a lamentar-me, até porque não seria
justo para os meus pais, que não se podem vir aqui defender, mas por vezes
custa-me um bocado a falta de apoio nas coisas que faço. Ou melhor, não é exatamente isso, é mesmo arrasarem comigo antes mesmo de fazer algo. É
dizerem que aquilo que penso fazer é uma porcaria e não vai resultar de modo nenhum.
É afirmarem categoricamente, que “em tudo o que te metes dá sempre errado” e que
as minhas opções são sempre contrárias aos seus interesses. Porque eu não sei
nada e falho constantemente.
Desde que me lembro de mim, que os meus pais exigiam que
fosse o melhor. O melhor na escola, o melhor na ginástica, o melhor no karaté,
o rapaz mais educadinho da aldeia, o mais prestável, o mais católico, o mais
garanhão, o mais tudo. Tirando a escola, que surgia quase como uma obrigação pessoal,
sempre me caguei para aquilo que os meus pais queriam e sempre fiz o que quis. É
claro que era sempre criticado e sempre que podiam, lá arremessavam um bota-abaixo
monumental, coisa a que me fui habituando com o tempo… até porque como diz o
povo “primeiro estranha-se e depois entranha-se”.
Tenho a perfeita noção que esta postura de crítica e de
rebaixo é estratégica, porque é mais fácil colocar uma pessoa na merda e
quebrá-la, para depois fazer-se o que quiser dela, do que moldar a personalidade
de alguém a partir das suas conquistas pessoais. Lembro-me de várias coisas que
comecei e que sempre foram vistas como um “fracasso”, que depois de acabadas
tornaram-se num “sucesso”, sendo que as primeiras pessoas a aplaudirem-me eram
os meus pais, que já tinham comprado todas as cadeiras da primeira fila. Ou
seja, sinto que os tenho comigo, quando eles sentem que tudo vai acabar bem, e
sinto que são os primeiros a abandonar-me antes de iniciar qualquer percurso.
Aliás, quando algo corre mal a pergunta sacramental é: o que é que fizeste?
Nesta fase da vida já não procuro apoio nenhum, porque já me
contento com um “deixa para lá”. Mas mesmo assim, a querer viver numa qualquer
indiferença, não consigo atingir os meus intentos. Quando comunico um qualquer projeto aos meus pais, já sei que vão arrasar com ele logo ali, mesmo sem
perceberem muito bem o que é. Portanto, já há algum tempo que adotei a estratégia
de comunicar no fim o que fiz, ou o que estou a fazer. Assim, não corro o risco
de ter mais duas pessoas contra mim.
E embora sabendo isto, e de ter este comportamento, às vezes
esqueço-me das premissas a que me votei, e sedento de querer ter uns pais,
conto-lhes as coisas que penso fazer na minha vida, lembrando-me logo de
imediato porque é que lhes escondo muitos dos meus passos. Se entrei eufórico
na sala, saio derrotado pela aduela da porta, sentindo-me tão pequenino que
consigo caber numa qualquer junta do pavimento cerâmico, esperando que um dia eles percebam o mal que me fazem.
Realmente muito triste isto. Tive a felicidade de ter pais q sempre me apoiaram em tudo. Saudades.
ResponderEliminarPaulo, é o que temos :)
EliminarOs pais têm sempre uma lógica muito própria. Com os meus adoptei o método de só lhes contar o que me perguntam. E assim temos uma existência feliz. O facto de vivermos a 300 km de distância facilita. Mas também nunca perdi a oportunidade de lhes responder à letra. Desde pequeno. O meu pai dizia-me "és mesmo filho da minha mãe" ao que a minha mãe se ria e respondia "foi assim que o educamos, a não deixar ninguém sem resposta". :)
ResponderEliminarShoes, é uma boa política. Acontece por vezes é que depois não gostam das respostas...
EliminarDeixo te um abraçinho
ResponderEliminarObrigado, Francisquinho :P
Eliminareu é exactamente o caso inverso. os meus pais sempre estiveram um pouco à margem por confiança demasiada em mim. Sempre os vi ao lado do meu irmão a apoiá-lo ou a criticá-lo.
ResponderEliminarquando entrei para o universidade não houve grandes festas «já sabíamos que entravas» disseram. Não me perguntavam nada «porque tu estás sempre bem», não se interessavam pelo que eu fazia «porque tudo o que tu fazes dá sempre certo, nasceste com o rabo virado para a lua». Todos nós com as nossas tristezas.
Pois Silvestre... nem tanto ao mar, nem tanto à terra :s
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