terça-feira, 24 de dezembro de 2013

presente de natal do namorado

Em Abril de 2008, escrevia assim: 

E assim foi. Finalmente, em Agosto, no período entre guerras, Pierre completou os 18 anos. Um dos objetivos traçados, mesmo antes de abrir os olhos pela primeira vez, tinha sido alcançado. Contudo, o entusiasmo que sempre o povoou tinha morrido. Com a guerra. Com a fome. Com a vida.

Nos tempos que corriam, sobreviver era o apelido de todos os franceses. Mastigavam a ansiedade, para enganar o estômago. Para fingir cenários tranquilos, numa guerra voraz, que tinha uma alma própria, embora adormecida. Ele, Pierre, apenas queria alcançar a Luz. A metrópole da boémia. Da música. Dos artistas. E julgava ele, da liberdade.

Numa aldeia perto, mas longe da cidade, redesenhava outras tantas metas, que teimavam em não aparecer. E embora não se identificasse ali, provido de isenção, sabia reconhecer que aquele lugar era mágico. Aceitava, sem grandes resistências, que a cronologia do destino, aqui, era mais lenta e onde brotava do verde água, do azul nublado e do amarelo queimado, a calma e a serenidade quotidiana, que caracterizava as suas pessoas. As vivências e opções. Mas para ele era sufocante. Pregava-o a uma cruz, que não era sua. Que não queria. Que não tinha sido solicitada. Continuar ali, seria cometê-lo à loucura. Seria agitar dentro do seu corpo, uma insanidade grandiosa e perfeita.

Contudo, estas suas conclusões não eram deduzidas por alguma invisibilidade ou infelicidade, ou ainda, por traumas infantis e dengosos. Nada disso. Pierre assumia ser impulsionador de atenções. Duvidava apenas dos motivos. Não reconhecia mais valias, aos seus olhos cor de esmeralda, cabelos negros lisos, ou à sua altura de destaque. Apenas pensava ser algo natural. Fisiológico e necessário.

Perto de tudo, vivia numa casa de pedra, fria e baça, limpa a tardoz por um riacho transparente e energético, onde tomava banho, quando o cérebro não congelava. Era uma casa modesta, humilde até, pertença da família desde tempos imemoriais. O pouco que tinha, não era seu. De facto, não era rico. Não criava cobiça nas jovens da aldeia por esse motivo. Filho de camponeses, camponês se tornou. Tal como a singela habitação, a profissão converteu-se numa herança genética, da qual não pôde fugir.

Do campo, além do sustento, obtinha um físico de presença, que musculava o corpo, criando formas queimadas pelo sol de verão e protegidas pelo de inverno. Aqui e ali, provocava nas beatas de domingo, pensamentos ardentes e suspiros disfarçados de doenças cardíacas. Aliás, todo o universo feminino o ambicionava. Para aprisioná-lo. Para desposá-lo. Para criar a exclusividade. Para aquecer o leito. Para noites ardentes de paixão.

Indiferentemente, ele sorria a todas estas intenções. Achava-se ainda novo, na velhice da história, para todos estes procedimentos. Tinha objetivos primeiros para atingir, antes de se preencher com aspetos mundanos. Não é de estranhar por isso, que tenha cultivado a ingenuidade no amor e a verdura na cópula.

 Foi no verão dos seus 16 anos, que percebeu a mudança. Após um dia de intenso trabalho, enquanto a mãe preparava o jantar e o seu pai alimentava o gado, com o calor que povoava a região, decidiu tomar banho. Necessitava de refrescar-se, para dormir em paz. Inocentemente, despiu-se e sem preocupações de maior, mergulhou no seu riacho, onde lançava cascas de árvore, imitando os vapores, que tinha visto em gravuras.

O corpo obedeceu à mudança de temperatura e relaxou. Ao emergir, apresentava um brilho de lustro, resultante da intersecção das gotas de água com os raios solares. Lavou-se, esfregou-se e acariciou-se. E enquanto o fazia, notou que algo crescia em si, provocando sensações de desejo, fazendo explodir pequenos momentos de prazer. Bruscamente, como que acordando de um sono profundo, ouviu risos histéricos e distantes, mas suficientemente sonoros para o despertar. Por detrás de uma vegetação rasteira e seca, de verde desmaiado e anémico, a sua visão alcançou três raparigas, que o olhavam com curiosidade e ambição. Sem pudor, livre de pensamentos e responsabilidades, virou-se para elas, completamente nu, glorificando a sua existência, adquirindo naquele momento, um estatuto sexual. Começou a nascer o homem, que enterrou a criança.

As moças, furtivas, sorriam baixinho, escondendo-se por detrás de mãos envergonhadas, sedentas de tacto. Pierre não percebia o porquê e fitava-as. Até que, recuperando o episódio de constrangimento de Adão, levou as mãos aos genitais e tapou-se. Com as faces rubras enfiou-se dentro de água, e de tão corado que estava, quase que fez saltar os peixes da ribeira, que nunca tinham experimentado uma temperatura tropical.

Não obstante esses acontecimentos, para Pierre, a verdadeira adolescência tardava a aparecer, embora fosse denunciada pela presença de pelugem mais farta na cara e nas zonas púbicas. E se calhar era isso, que tanto o atormentava.


O meu pequeno presente de Natal para a blogosfera!

 Bom Natal a todos :)

Ps. Peço desculpa pela extensão da publicação. 

10 comentários:

  1. Eu bem digo para recuperares um pouco do antigo estilo. :)

    (só agora tive tempo de ler este texto com atenção LOL)

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    1. LOL São fases caro Mark! E épocas. A pessoa vai mudando :)

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  2. Eu já tinha lido este texto à uns dias e hoje regressei para o reler! Está muito bom, adorei a forma como descreves toda a narrativa! E o Pierre, ohhh, que maravilha de rapaz! :D

    Abraço :3

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    1. LOL E já tinha mais coisas escritas... mas isto de colocar passwords em word...

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  3. Que texto espetacular, é uma pena que não recuperes isto.

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    1. Obrigado! Já tentei. Mas esqueci-me da password que coloquei no ficheiro word lololololol

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