sábado, 13 de fevereiro de 2016

dia dos namorados

Já escrevi tanto neste blogue sobre o dia dos namorados, que este ano ia deixar passar a data. Ia, mas já não vou. A Anabela enviou-me um e-mail. A Anabela gostava que escrevesse alguma coisa, sobre viúvos e viúvas no dia dos namorados, e mais especificamente, na comunidade LGBT+. Para o efeito, enviou-me um link sobre um projecto social que pretende diminuir um bocadinho da solidão que muitos têm neste dia (e não porque não gostam de estar sozinhos, mas porque a sociedade de consumo faz demasiado alarido sobre uma data, em que se tem de estar acompanhado, obrigando assim, a quem já deixou partir o amor da sua vida, recordar-se dessa pessoa, por vezes, de uma forma dolorosa). 

Eu sou inexperiente nesta coisa do amor. Tenho 35 anos e vivo um relacionamento, digamos que recente. E afirmo "recente" porque a base de comparação que tenho, são os relacionamentos dos meus pais, dos meus avós, e todos aqueles que conheço e que já namoram/estão casados/vivem juntos, há milénios (mais de 20 anos é uma boa bitola). Também para quem lê este blogue, não é segredo nenhum, o arrependimento que tenho de ter "deixado partir" a minha avó, sem ter feito as pazes com ela. Antes deste momento, no ano anterior, vítima de um cancro na próstata, partiu o meu avô. Lembro-me perfeitamente do dia do seu enterro e de como a minha avó chorou. Se dúvidas tivesse, aquele momento provou-me que de facto o meu avô era o amor da vida dela. A verdade, é que na disputa familiar pelos bens e dinheiro (os humanos são uns bárbaros, uns egoístas e idiotas, quando se trata de partilhar as coisas dos outros), ela foi-se deixando ir. Perdeu o brilho nos olhos, e falava sozinha com ele, como se ele tivesse efetivamente ali (fisicamente falando). Lembro-me perfeitamente de a ver sentada no sofá, com vista para a colina, onde ela me dizia "Dé, gostava tanto do teu avô". Só sei que passado um ano, no mesmo mês, ela morreu. E eu não estava no país. 

Portanto, pessoalmente, só sei o que é a dor de perder alguém, relativamente a pessoas que foram da minha família de sangue e afetiva. Isto é, nunca vi "partir" um namorado (ou um marido) e todos os meus ex's estão bem de saúde (e recomendam-se - uns mais que outros, né? Que isto de recomendar alguém nos dias de hoje tem muito que se lhe diga). Logo, por mais que tente extrapolar a situação, não sei realmente, o que é perder alguém que se tenha "escolhido" para partilhar uma vida. E nesta "vida de marinheiro" (que estava a dar cabo de mim) só conheci um rapaz que perdeu o namorado. E nunca mais foi o mesmo. Um luto custa sempre, mas há situações e situações. E não. Não vamos escalonar que a morte A custa menos que a morte B.

Tudo isto leva-me a concluir, que os meus medos da solidão são efetivamente legítimos, sendo que mais do que estar "solteiro", o problema é de ficar sozinho. Mas pronto, não quero tornar esta data, num dia de finados. Ide, ide, jantar fora, comprar rosas, dar uma queca monumental - porque na segunda já trabalhamos (e eu tenho que voltar para o meu calvário).



Nota final: a minha tia é viúva, amava muito o meu tio... mas anda a "aproveitar a vida". Segundo o meu pai (é irmã dele), até demais (LOL). Mas o que interessa aqui reter, é que somos animais sociais e não fomos feitos para estar sozinhos, mas que não precisamos de um 14 de Fevereiro, para dizermos às pessoas... que as amamos. 

9 comentários:

  1. Parabéns. Já há muito não lia um texto teu com tanta qualidade - e porque os sentimentos são o que temos de mais puro. Feliz dia dos namorados.


    Beijinhos e porta-te mal!! ;)

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    1. Obrigado adolescente gay! De facto o que temos de mais puro, são os nossos sentimentos.

      Abração

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  2. Também o meu avô partiu sem que mantivéssemos qualquer contacto nos dois anos que antecederam a sua morte.

    São remorsos que levaremos pela vida.

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    1. Junto-me a vocês os dois, não por ter deixado de ver o meu avô antes dele morrer, mas pelo que gostava de ter conversado com ele e pelo que tinha para aprender com ele.. que hoje toda a gente diz que ele teria muito para me ensinar e que eu gostaria de aprender... mas era um adolescente estúpido e parvo e não o aproveitei enquanto o tive. Hoje isso pesa-me na consciência.. e nada há a fazer.

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  3. Gostei muito do teu post!
    E faz-me ver o quão consumista é este dia, que chega a estar perto de causar momentos mais depressivos a algumas pessoas. Mais uma coisa para eu não gostar da data...

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    1. Horatius tudo tem um lado B. E por vezes comemorar o Dia dos Namorados, pode ser traumatizante para outras pessoas, como por exemplo, quem perdeu alguém que amava.

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  4. Eu para namorar com alguém terá que ser quem me faz querer tudo dessa pessoa e até hoje não encontrei, e sim tenho medo de ficar sozinho mas estou já com muitos anos assim por isso, a diferença é apenas esperar por ela.

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    1. Mas Limite, não vivas só na ideia que esboçaste da pessoa... até porque aquilo que imaginamos não existe a não ser no nosso cérebro.

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Este blogue não é uma democracia e eu sou um ditador'zinho... pelo que não garanto que o comentário seja publicado. Mas quem não arrisca...