domingos

E hoje voltei ao local do crime. Estava um dia muito bom e tive um motivo de força maior (esqueci-me da tolha no bar da praia), que me impeliu novamente para a mesma esplanada. Fui com uma amiga, novamente com calções, ténis e t-shirt. Mal chegámos, o empregado com um sorriso de orelha a orelha, cumprimentou-nos. Escolhemos uma mesa e sentámo-nos. O rapaz é muito simpático. Demasiado simpático. Demorou uma eternidade para nos atender, e quando o fez, veio novamente com um sorriso de orelha a orelha, e todo lambão para me passar a mão pelas costas. Só sei, que devo ter feito um olhar 31, e a mão ficou congelada a meio caminho. Quer-se dizer, não deixo qualquer um passar-me a mão pelo lombo. Há que me conhecer primeiro e pagar uns quantos jantares. Mas, e correndo o risco de ser injusto e dar aquela de “que todos os gays, acham que todos são gays”, a verdade é que ele comigo era só sorrisinhos e com a minha amiga, quase que a ignorava (bem feito para ela que têm a mania que sabe chamar os empregados lolololol).

Para abrir as hostilidades bebemos um café.  Depois o meu “whatsApp” não parava de apitar. Há miúdos muito chatos. E passei-me da marmita quando esse puto me deu a entender que ia tomar café com o meu namorado. Acho que não deu a entender, eu é que imaginei esse cenário. E pronto passei-me com o rapaz. Mas a culpa é minha porque ainda lhe dou conversa e respondo… mas que querem? Tenho pena dele, porque eu também já fui assim. “Chato para caraças” com os homens, porque achava que os vencia pelo cansaço.

A meio da nossa permanência, a minha amiga disse que tinha fome. Então pronto. Pedimos novamente as listas. Parecíamos invisíveis, porque ninguém nos conseguia ver. Ou queria ver. Lá encontrei o rapazinho dos sorrisos despregados e fiz sinal. Mas enganei-me e desenhei mal o gesto, pelo que me perguntou se era a conta. Disse-lhe que não, mas como estava longe, ele não percebeu. Mas também não ia começar aos berros, obviamente. Ele abanou a cabeça, encolheu os ombros a demonstrar que não tinha entendido e veio ter connosco para perguntar o que queríamos. “A lista, s.f.f.”- pedi. Lá trouxe duas listas, deu uma à minha amiga e outra à minha pessoa.

- Para si dou-lhe a lista em inglês. Assim pode ir treinando a língua – disse-me.

A minha amiga ficou a olhar para mim a rir, e eu, não sei porquê, lembrei-me da música dos Afonsinhos do Condado:

“Aiiiiiiiiiiiiiiii

Que horas são?

11 e meia.

Oh... Leva-me contigo!

P'ra onde?

P'ra dançar na praia.

Só contigo?

Simmm. Comigo. Dançar na praia, rolar no chão.

Rolar no chão?!

Simmm, rolar no chão, dançar na praia.

Ohhh...

Oh... Leva-me contigo!

P'ra onde?

P'ra dançar na praia.

Ohhhhhhhhhhhh

Oh... Leva-me contigo!

P'ra dançar na praia.”

Fiquei um bocado a franzir a sobrancelha, porque não gosto de gente abusada. E quando são demasiado simpáticas, desconfio sempre. Mas isso é porque sou demasiado traumatizado com as pessoas. É isso e sofrer de parvoíce crónica.