quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

não fazes o meu género

A última vez que me disseram "olha, desculpa lá, mas não fazes o meu género", apenas respondi "OK" e soltei uma gargalhada. Para já, porque não procuro o mesmo do que essa pessoa procura (até porque namoro, embora acredite que o destino é que sabe o que acontecerá amanhã), e depois porque não percebi essa "tampa", porque nunca dei a entender a essa pessoa, que a queria levar para a cama, ou namorar, ou casar com ela. Mas pronto, ele sentiu-se feliz porque descartou um gajo e eu fiquei contente por ter sido descartado, mesmo sem nunca me ter colocado nessa posição. 

Se fosse há uns anos atrás, depois de ouvir "não fazes o meu género" ficaria deprimido e iria para casa pensar, no que poderia fazer para me tornar menos feio e um bocadinho mais atraente. Por mais que uma pessoa seja confiante em si, quando ouve uma frase deste tipo (já agora, é mais uma das frases feitas, muito usadas na rejeição) fica sempre a pensar. A matutar. E a ponderar naquilo que terá de errado. E muitas das vezes comete o erro crasso de se flagelar, e exigir algo de si, que nunca irá conseguir ser/ter porque simplesmente somos todos diferentes.  

E quando se realiza o exercício, de se analisar a outra pessoa concluindo "mas ele até nem é nada de especial", ainda se fica mais na dúvida de qual será o nosso problema. A questão da rejeição, utilizando o "não fazes o meu género" ou "não te preocupes, dás para amigo" assenta sempre em pressupostos que não conhecemos, e que eventualmente não iremos conhecer. Ou seja, quando alguém nos diz barra, poderá ser por diversos motivos. Porque gosta de gente alta e nós só temos 1.69 metros, porque gosta de gajos musculados e nós somos magros, porque gosta de engenheiros civis e nós somos designers, porque não gostamos de futebol, ou porque acham que temos tiques e não somos masculinos. Qualquer motivo é válido para o descarte, até porque o modelo idealizado (e quase sempre irreal) nunca é fiel aquilo que iremos encontrar na vida. Logo, e enquanto não percebermos isso, o nosso vocabulário andará sempre preso ao "não"

A verdade, é que a rejeição acontece quase sempre, considerando as expectativas dos outros e não aquilo que somos. Levar uma "tampa" é a lei da vida, e temos sempre que lhe dar o crédito que merece ter, sendo esse o menor possível, até porque há coisas que não controlamos, nem conseguimos evitar. Se uma pessoa gosta de altos, loiros e de olhos azuis, e se dá a este fator de ponderação uma importância de 90%, e se formos baixos, morenos e de olhos castanhos, nunca iremos conseguir captar a atenção da outra pessoa, nem iremos conseguir que ela nos ache piada, se quisermos ser correspondidos. Obviamente que muitos dirão, ah e tal, mas o amor não envolve o aspeto físico, é mais o espiritual, a alma, a correspondência de objetivos de vida e tudo e tudo e tudo. Pois. É isso. Continuem a achar isso, que vão ver, até porque não é assim que a coisa se processa. Haverá sempre algo físico que nos faz avançar... e ficar. Sejam os olhos azuis, sejam as mãos grandes, seja a enorme.... Qualquer coisa física, faz-nos ficar ali. Faz-nos pesar o interesse. E isso acontece frequentemente, e não é difícil. O complicado é que duas pessoas se interessem uma pela outra gerando ali uma correspondência. 

Portanto, levar uma "tampa" não é problemático, se soubermos relativizar a situação. Houve tempos em que me senti tentado a perguntar "mas porquê?". Mas esta pergunta, e consequente resposta, não iria acrescentar nada à minha pessoa, à minha maneira de ser, pelo que ainda bem que nunca o fiz. Os motivos da recusa serão sempre subjetivos e nem sempre são estanques, porque por vezes a "tampa" de ontem, acaba por mudar para um "ok" amanhã, e o engraçado nestas coisas, é verificar que depois quem ficou chateado por ter sido recusado um dia, até agradece, ficando depois na posição contrária do "não fazes o meu género". A vida é irónica, de facto. 

15 comentários:

  1. Acho uma desculpa tão válida como qualquer outra, mais vale uma dessas no início do que um "não és tu sou eu" no final...
    Não acredito que uma pessoa quando diz tal coisa esteja a tentar fazer o outro pensar que se passa algo de errado com ele, são coisas da vida.
    Se te dizem que não fazes o género de alguém por que já tens alguma idade o que podes tu fazer? Uma plástica? Falsificar a data no cartão único?
    No entanto, como qualquer outra coisa, a forma como é dita ajuda a aceitação da mesma. Há pessoas que a dizem com um desprezo bem visível e outras que parecem dizê-lo quase com pena... É a vida.

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    1. Sim, é a vida, mas há maneiras e maneiras, de fazer as coisas.

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  2. Sempre fui e sempre serei adepto da verdade e da sinceridade. Sempre agi assim e gosto tb q assim sejam comigo. Nunca questiono o porque. Quer? Bem! Não quer? Amém. Bola para frente.

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    1. É pena que nem toda a gente seja assim. Aqui a tempos, a desculpa que me deram foi: oh, não tens barba e eu quero namorar com um rapaz com barba.... Lol! xD

      Fiquei puto da vida, sinceramente, de tal forma que deixei crescer a barba já duas vezes, mas depois canso-me do visual, até porque me faz parecer um bocado mais velho :P

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    2. Paulo, é a melhor postura, mas para quem não estava habituado a esta abordagem é sempre um bocado duro ser rejeitado. Aliás, quem é que gosta de ser rejeitado?

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    3. Mikel, mas o problema reside mesmo ai. Tipo, alguém diz que não fazes o género dele, e nesse caso, porque gosta de homens com barba... e tu vais deixar crescer a barba, não por ti, mas por ele? A verdade é que a rejeição é sempre subjectiva e por mais que o lado rejeitado fique a pensar no assunto e naquilo que poderia eventualmente mudar para agradar, isso não vai dar em nada... porque se não for a barba será a cor dos olhos, a marca da roupa ou o tamanho da pila (também conheço pessoas que só gostam de namorar homens com instrumentos gigantes... enfim... há gostos para tudo).

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  3. Todos já preterimos e já fomos preteridos, não podemos ganhar sempre

    Mas, estou como tu dizes: Não gostas?!

    Cagari, cagaró... Andari, andaró lolololololollo

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  4. Acontece. Já sabemos como a maioria gira em torno do físico. Mas quero trazer um dado que considero interessante: pode haver alguém que considere que o outro não faz o seu género... intelectualmente falando, embora, sim, sei que quase sempre se referem ao físico (bom, sei pelo que ouço).

    Nunca fui rejeitado porque nunca dei a entender, a ninguém, que pretendia algo. É um começo. Provavelmente, ele terá sentido algum interesse, ainda que digas que não (ele deve ter sentido, de outra forma não te daria "para trás"), e pronto. Mostrou toda a sua futilidade. Pelo menos foi sincero, pensa assim.

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    1. Mark'zinho é verdade, acontece. E mil vezes sinceridade, do que mentiras elaboradas e cheias de enredo.

      E sobre as expectativas dos outros sobre nós... bom, por vezes não está no nosso alcance dominar o assunto.

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  5. O que não nos mata, torna-nos mais fortes...

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  6. Eu sei o que faz o meu coração palpitar e pouco ou nada tem a ver com beleza, seja ela de que tipo for, até porque o que me atrai não ira atrair o resto do mundo. THANK GOD! Estaríamos todos f*didos!

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    1. Limite e o que faz o teu coração'zinho saltitar?

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    2. Por exemplo as manhãs de sábado quando sei que tenho 50% de probabilidades de me cruzar com alguém que me faz ter uma boca que nem um túmulo :-p (na sequência dum outro comentário meu lol).

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Este blogue não é uma democracia e eu sou um ditador'zinho... pelo que não garanto que o comentário seja publicado. Mas quem não arrisca...