Os outros esperam sempre que eu seja algo. Da mesma forma, que a sociedade exige que alguém seja alguma coisa. Tem que se ter uma religião, tem que se revelar uma orientação sexual, um pensamento político, uma ideia, um comportamento, um ódio, uma vontade qualquer. Tem que existir uma ficha personalizada e detalhada, que permita estabelecer correlações e "gostos em comum". Ou então, pretende-se apenas saber com o que se pode contar, ou dizer, engolindo as opiniões próprias com medo de sofrer alguma represália a montante. Seja o que for, as pessoas gostam de etiquetar pessoas.
Todos aqueles que não gostam de mostrar despudoradamente essas questões, não são colocados de parte pela sociedade - muito pelo contrário - mas sim, bombardeados com questões de modo a apurar os "dados em falta". Se algumas colegas minhas acreditam que sou hetero, e passam o dia a ordenar-me que tenho de arranjar uma namorada (mesmo depois de eu afirmar, na brincadeira, que ia para a cama com o chefe para ter benesses), e se a minha mãe reza todos os dias para eu "não gostar de homens e arranje uma rapariguinha que me aceite como sou", sinto-me sempre na obrigação de me colocar sobre algum título. Seja neste campo, seja noutro qualquer.
Normalmente, de todos os exemplos que apresentei, aquele que sobressai é sem dúvida, a componente política. Ou seja, todos os dias sem exceção, sou chamado de "comuna" (mesmo que não o seja, e também mesmo que o fosse, ninguém tinha nada a ver com isso). Quando me chamam isso, porque a minha linha de pensamento toca a "solidariedade" e não a "caridade", apenas encolho os ombros. Da mesma forma que considero que não tenho que dizer que sou gay, também acho que não tenho que dizer se sou "comuna" ou deixo de ser "comuna". Ou se sou católico ou deixo de ser católico. Ou se gosto de sexo ou não. Portanto, quando quando digo "mas olha que não sou comunista", levo logo com um "mas és o quê?", porque tenho que ser sempre qualquer coisa.
As pessoas apenas têm que saber aquilo que eu quero contar (ponto final). Bem sei que "isso" não chega, porque a maior parte da malta quer "saber". Saber porque sim. A malta parece que não consegue processar uma pessoa sem ter tudo "preto no branco", sendo que não pode existir um meio termo. Uma pessoa, ou é gay, ou é hetero. Ou é de esquerda ou de direita. Ou é a favor ou contra. E se uma pessoa diz a outra "dava-te uma trancada" como elogio, é uma puta. Todos temos etiquetas. E se estes pormenores fazem falta para as análises forenses que cada um faz, não deixa de ser verdade também, que muitas das vezes, esses dados são usados "apenas" para gerar uma crítica, uma "compaixão'zinha" sacana para mostrar que "coitadinho não percebe nada da vida, há que dar o desconto".
Eu sei as etiquetas que mostro sem querer, mas as que gosto mais são as que dão a entender algo, e a dúvida acaba por habitar o pensamento de outros e não é bem o que estás a pensar.
ResponderEliminarOlá.
ResponderEliminarÉ sempre tão bom ler textos teus.
O que dizes é verdade e é a "hipocrisia do nosso Mundo".
Se existe? Sim, mas temos de saber viver com ela e com as pessoas que a alimentam e, Portugal, está cheio delas! Também sou chamado de "comuna" muitas vezes e, também muitas vezes, querem meter-se na minha vida... é dar um "Xô" e tudo se afasta... cabe, a cada um de nós, mudar o nosso pequeno Mundo, para que algo comece a mudar também! =)
Beijinhos e porta-te mal!! ;)
O meu rótulo é que abomino tudo e todos que se relacionam com o politicamente correto.
ResponderEliminarNamorado as pessoas lidam melhor com rótulos do que com incertezas. No meu caso votei uma vez em toda a minha vida no bloco. A partir desse momento tenho sido sempre a comuna para o meu pai ... haja paciência ;) .
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