Já muito se falou sobre o atentado em Paris ao “Charlie
Hebdo”. Já muito se debateu as declarações do Gustavo Santos. Já discuti muito
sobre os dois temas, quer no meu perfil de Facebook, quer com amigos nos cafés,
quer com os colegas no trabalho, quer ainda, com desconhecidos em diversos
fóruns noticiosos. A verdade, a meu ver, é só uma: morreram 12 pessoas.
Aquilo que me incomoda neste caso, é alguns indivíduos acharem
que o “Charlie Hebdo” era motivo de ódio. Pessoalmente, só tinha ouvido falar,
aqui e ali, das suas provocações constantes em forma de cartoons, a tudo e a
todos, baseadas, segundo dizem, em humor puro e duro. Não é um jornalismo que
aprecie, embora goste muito do desenho e do cartoon em especial. Para quem não
conhece, ou desconhece, este jornal satírico francês não brincava só com a religião
muçulmana, mas também com tantos outros assuntos, como por exemplo a
homossexualidade. Se gostava particularmente deste tipo de “humor”? Não. Se me
sentia atingido por ele? Às vezes. Se acho que há assuntos com os quais não se
deviam de brincar? Acho. Então qual é a diferença entre mim e o Gustavo Santos?
A grande diferença é que não acho que ninguém deva condicionar a sua maneira
ser, face ao medo.
Para quem lê este blogue, deve recordar-se, que nos meses
anteriores fiz uma publicação sobre o filme “Virados do Avesso”, onde considero
que existe uma ridicularização dos homossexuais de forma gratuita (avaliando
pelo trailer que vi, dado que não assisti à película toda). Se acho que a piada
deveria ter sido construída de outra forma? Acho. Se fui ver o filme? Não. Se
considerando a existência de uma ridicularização, acho legítimo que os atores, realizadores,
produtores, etc do filme devam ser baleados? Bom, a resposta é, e será, sempre
não. Devemos garantir, que apesar de discordarmos com muita coisa, não podemos
desejar a morte de alguém, nem afirmar sem pudor “que estavam a pedi-las”.
Aliás, esses discursos fazem-me lembrar a velha máxima, e já muito repetida, que
“a culpa da violação é sempre das mulheres que usam roupa provocante” ou ainda,
aquele episódio num tribunal do norte do nosso país, onde um homem acusado de
matar a sua esposa porque desconfiava da sua traição, era recebido com louvores
e palmas incessantes.
Julgo que vivemos numa sociedade que confunde Liberdade de Expressão
com “Liberdade de dizermos o que queremos e sem direito a resposta diferente”,
onde os jornalistas agora mortos sabiam que incomodavam, que causavam desconforto
e que acima de tudo eram inconvenientes, mas ao mesmo tempo não condicionavam a
resposta ao seu discurso. Já diz o povo “que quem diz o que quer, ouve o que
não quer” e quem escreve “que alguém estava a pedi-las”, ou “que os portugueses
que não perceberam o que escrevi não sabem nada” limita-se a ler o que não
gostam e verificar que as suas teorias do “carpe diem” são facilmente
desmontadas quando muitos se apercebem da sua natureza de plástico.
E sinto-me legitimado a escrever este texto, e a ter esta
opinião, por dois grandes motivos. O primeiro, porque sou muito teimoso e
convivo mal com a opinião alheia. O segundo, é que sendo homossexual, vejo-me
muitas vezes ridicularizado em programas de humor, em conversas de café, em
séries de televisão, em filmes, em piadas fáceis e em atitudes menos bonitas. Mas
uma coisa é a “pretensa” piada, outra será a ofensa gratuita (que o humor sério
não comporta) e outra ainda, é condicionar estas manifestações “apenas” porque
me sinto incomodado e porque acho que não sou “bixa” (e a redigir isto, acabo por ser preconceituoso também).
Não acho porém, que o “Charlie
Hebdo” tivesse como função incitar o ódio pelos homossexuais, nem que “estivesse
a pedi-las” para que os homossexuais invadissem a redação e queimassem tudo. E
dito isto, acrescento que também não concordo em absoluto com o seu “humor”, mas
isso será um problema meu, que lido simplesmente com um “ignorar”, ou então, com
um sorriso na cara se lhe achar piada.
Sobre o Gustavo... bom... ele podia limitar-se a
aparecer em tronco nu em revistas da especialidade, para o deleite de muito boa
gente, até porque ele é engraçado (e afirmo isto mesmo não gostando do rapaz, mas
é só para verem que até não sou muito ditador).
Fonte: Carlie Hebdo
Fazes bem partihar a tua opinião, e uma coisa que não nos podemos esquecer é que há um muito lugares do mundo em que a liberdade de expressão não é um direito, as pessoas ficam mudas.
ResponderEliminarInfezlimente no caso de França, usaram esse direito e porque as mentalidades são como esponjas, absorvem apenas uma pequenina parte de um todo. O problema está lá, sempre esteve e até digo que poderá ganhar contornos de maiores dimensões.
Eu acho que devemos ter um bocadinho mais de humor na vida Limite, para tristezas já basta a vida.
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