segunda-feira, 10 de novembro de 2025

para onde vai o amor? | inês gonçalves







Estava expetante com a nova proposta de Portugal, para o Festival Júnior da Eurovisão, depois do ano passado termos ficado em segundo lugar. Já tinha ouvido, o preview, e na sexta-feira ouvi a canção toda (quando foi disponibilizada no YouTube, às 14h00m). Se ao início fique tipo "meh", depois de ter ouvido a canção de uma ponta à outra, fiquei tipo "uau". E se chorei, é um sinal que vale a pena. E digo-vos mesmo: vale a pena. Muito. 

Talvez seja uma canção demasiado "pesada" para uma miúda, mas a verdade é que estes sentimentos também não escolhem idades. Digo-vos eu, que perdi a minha avó paterna muito cedo. Porque o amor está em todo o lado. Em todas as interações que temos. Com amigos, com a família, com colegas de trabalho ou de escola, e com todos aqueles e aquelas, que de alguma forma se cruzam na nossa vida. 

Vou guardar em mim
Esta estante de memórias,
É o lugar da nossa história,
Mesmo longe, estás aqui,
Afinal tu não partiste,
Não dá p’ra dizer adeus a quem eu sou
Como é que o amor…

Como é que o amor não se vê,
Se eu já vi quem não se dava virar amigo?
Se é capaz de encontrar quem está perdido?
Mais vale sentir que fazer sentido

 

  Playlist atualizada AQUI!

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

constatações

Para mim, a grande novidade disto tudo é: fui eu, que acabei por rejeitar alguém. E não sei lidar com isso, porque fui sempre eu, o rejeitado. Pelo Pedro, pelo Luís, pelo Rui, pelo André, pelo Miguel, e tantos outros, que não vale a pena aqui estar a identificar, porque iria encher um mini-bus com estas personagens todas. 

E pelo facto, de que tudo isto aconteceu com uma pessoa que adoro, e que estava ser super importante nesta fase da minha nova vida, deixou-me mesmo na merda. Não só, porque quero ter responsabilidade emocional com os outros (já que nunca a tiveram comigo), mas também, porque jurei a mim próprio, que a partir daqueles dias finais do agosto de 2024, iria ser mais honesto. Comigo. Com os outros. Com o mundo. Custasse o que custasse. E embora sentisse às vezes que o M. não fazia bem o que dizia, sempre lhe disse que não procurava relacionamentos, que não esperasse isso de mim e mais importante, que não estivesse à minha espera. Até porque, como me disseram ainda esta semana, posso até nunca recuperar disto. Não sabemos. A vida é uma incógnita. E neste momento não sei nada sobre a minha.

Durante anos, na minha descoberta sexual, onde já fui hetero curioso, bi e depois gay, conheci muitos gajos que me rejeitaram, e me fizeram crer, que eu tinha um problema físico qualquer. Sempre me achei feio, horrível e odiava ver-me ao espelho. Como se a culpa de ser como sou, fosse minha. Como se tivesse tido alguma opção de escolha sobre o meu corpo, a minha cara, a minha altura ou o que quer que fosse. A cena acontecia sempre da mesma maneira, e acabava sempre com a tirada "do problema não és tu, sou eu", onde eu era "um gajo fixe, mas não dava". Como me disse o Pedro muitas vezes. Demasiadas vezes. 

Claro que aqui, o problema nunca foi o outro lado, simplesmente, eu é que não cabia no ideal de homem do Pedro, do Miguel ou do Luís, porque passadas semanas, lá estavam eles em namoros com os amores da vida deles, e eu na merda. E isso machuca. Diminui. Gera fragilidade. Por isso, ou talvez por isso, resolvi perder a virgindade com o rapaz que fazia o meu ideal de gajo (fisicamente falando, porque ele era mesmo um grande cabrão), porque se era para ser, que fosse com alguém que me desse tusa. E assim aconteceu aos 28 anos. Sexualmente foi bom, mas essa pessoa estava, como sempre esteve, a cagar-se para mim. Também o facto de ser um "bi numa fase transitória", não permitiu mais nada. E eu sabia disso. E aceitei as regras do jogo. Hoje está casado com uma mulher, e tenho sérias dúvidas que seja fiel - desconfio que devem existir gajos por fora. Mas isso também não interessa, não é relevante e não tenho nada a ver com isso. 

Depois, aos 28 anos (quase 29), entrei no meu primeiro namoro, veio o segundo e finalmente o terceiro, que durou uma vida. O resto é história, e quem anda por aqui, sabe-a. Muita coisa se passou nesses anos do último relacionamento, muito drama, algumas alegrias, deceções e esperanças de que as coisas mudassem. Aliás, só assim faria sentido, tendo em conta o "preço que paguei". Mas a realidade ultrapassa a ficção, na maioria das vezes, e aqui chegámos nós, vítimas das nossas próprias escolhas. E das circunstâncias. 


"Para onde vai o amor, quando chega a hora de ir embora?" 

Créditos: 
Canção "Para onde vai o amor" 
Cantada por Inês Gonçalves
Composição: Miguel Cristovinho, Buba Espinho, João Direitinho e Aurora Pinto

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

pausa para parvoíces

Quando o senhor da polícia marítima, que anda lá no ginásio, passa por mim todo nu, e meto o meu ar de macho hetero e só o cumprimento, assim à HOMEM e digo umas parvoíces com uma voz mais grossa. 

Hoje de manhã foi um básico "Até amanhã e bom descanso", mas mentalmente saiu um "até amanhã seu gostoso do caralho, que levavas uma palmada nesse rabão"

Dualidades. 

domingo, 2 de novembro de 2025

domingo

Se dormi mal? Dormi. Não só por causa da comida do jantar, que não me caiu bem (já tenho uma certa idade e não devia comer certas coisas), mas também da forma como acabou a noite, e as frases que foram ditas, esclarecidas posteriormente por mensagens. Por mais que queira, não consigo desgravar da minha memória, a cara do M. a dizer-me "tu não gostas de mim". Isto nunca me tinha acontecido, ou seja, alguém dizer-me que não gosto dela, quando no fundo sabe que gosto. Normalmente é sempre ao contrário. Era sempre eu que ficava do outro lado da barricada. Portanto, não estou a conseguir lidar com o facto de ser o mau da fita. 

Não estou fixe, até porque dormi muito pouco, e devo ter acordado e levantado da cama umas 500 vezes, e ainda estou a acordar efetivamente, mas já estou com os olhos cheios de lágrimas. Não sei, parece que me sinto culpado de alguma coisa (muito culpado, assumo), ou talvez, mais do que isso, saber que perdi o M. na minha vida. Porque apesar dele dizer que vamos continuar a fazer coisas juntos, como fazíamos, eu sei - e ele também sabe - que as circunstâncias mudaram. Tudo mudou. E não estou a falar da parte sexual - porque isso resolvo com uma masturbação básica - mas sim, da cumplicidade, do carinho e da compreensão, que existia entre duas almas magoadas pelos gays

Ainda por cima hoje, tenho um almoço com amigos onde vai estar o ex-namorado. Só me apetece inventar que estou doente e não ir, mas sei que fizeram cenas gastronómicas de propósito para mim, as pessoas estão a contar ver-me, porque já não me veem há meses, e sentir-me-ia culpado também... se desmarcar a esta hora. Só não quero desatar a chorar ali à frente de toda a gente. 

E quando disse à psicóloga "o que me vai custar mais quando o M. arranjar alguém, é saber que vamos perder esta interação diária que temos e que me fez sobreviver este ano que passou, mas pronto, vou ter de lidar com isso da melhor forma", nunca pensei que, afinal o que teria de lidar, era com a mágoa de não ter correspondido às expetativas (não, que não queira, mas porque não posso, porque não estou OK para isso e tenho muitos fantasmas para combater) e com uma imagem de uma pessoa que eu gosto muito, cheia de tristeza e deceção a dizer-me: "tu não gostas de mim"

sábado, 1 de novembro de 2025

fim de ciclo

Ter dois relacionamentos terminados num ano é obra! Parabéns a mim, e à minha vida de merda. Acabadinho de chegar a casa, depois de ter estado com o M., senti uma necessidade de vir para aqui escrever, porque pelos vistos chorar no carro não foi suficiente. Confesso, que ter alguém de quem gostamos muito, dizer-nos com o ar mais triste do mundo "tu não gostas de mim", deixou-me de rastos. E a conversa final de despedida, junto ao carro, com pingos de chuva a enquadrar, onde dizem, "tu não me estás a fazer bem, preciso de recuemos uns passos na forma como nos relacionamos", deixou-me sem chão. Na merda mesmo. 

O M., neste último ano e um mês, tornou-se numa das pessoas mais importantes da minha vida. Tornou-se, no meu melhor amigo, confidente, companheiro de ginásio aos fins-de-semana e parceiro sexual não exclusivo. Era um dos pilares da minha nova vida, que de repente ruiu. Tudo bem, que era um momento que já sabia, que podia/iria acontecer, mas também sempre pensei, de uma forma ingénua talvez, que estava tudo esclarecido entre nós. Mas não estava. Hoje, chegou essa confirmação. A "tal" confirmação.

Para mim, o problema nunca foi o M. Nem era ele que tinha "algum defeito", como muitas vezes dizia. O problema sempre fui eu, e como uma pessoa, que era o amor de uma vida, me transformou nisto. Nesta coisa, que vive o dia-a-dia, à espera de outro dia, de outra semana e de outro mês, como se esperasse a morte. De um ser, que paralisa quando alguma coisa se torna demasiado sentimental, tal e qual, um animal selvagem, que fica imóvel perante as luzes de um carro. Mas a verdade é que continuo aqui. Vivo. Sobrevivo. Mas parece que não quero saber de mais nada. Parece que nada me importa ou que não quero saber. 

Não sou hoje, esta pessoa, só por causa de outra. Sou a vítima perfeita de todos os gays, que encontrei no meu caminho sentimental, e que me transformaram num gay, que vive de migalhas. Que se contenta com uns elogios fortuitos, e que tem medo de dar passos, seja em que direção for. Um gay, que não tem amor-próprio e que acha que nunca vai encontrar "melhor". Mesmo quando esse melhor não exista, ou não deva ser visto dessa forma. 

Hoje é um dia muito triste para mim, porque perdi o M. e fiquei ainda mais sozinho. Sozinho, numa solidão tão escura, que já não me mete medo. Apenas me revolta e faz chorar. Porque me deixei enredar numa situação durante muitos anos, porque achava que um relacionamento seria assim, e que acabou por me destruir de tal forma, que muito sinceramente, acho que nunca irei recuperar. Continuo a não perceber a gratuitidade das coisas, e como é possível que uma pessoa abuse de outra, ao ponto de a deixar assim. Tão machucada, dorida, ferida e sem futuro, acabando com essa pessoa que dizia amar. 

Mas a vida presta. Sim, presta. Para quem ainda tem alguma esperança na mesma. Porque pessoas como eu, apenas vivem o dia-a-dia, à espera de outro dia, de outra semana e de outro mês, como se esperassem a morte.

Espero que desse lado o vosso fim-de-semana esteja melhor que o meu. É isso que vos desejo, até porque acredito, e continuo a acreditar, que o Universo nos devolve, o que lhe damos. Apesar de neste momento, ter algumas dúvidas disso. 


Até amanhã.