Ter dois relacionamentos terminados num ano é obra! Parabéns a mim, e à minha vida de merda. Acabadinho de chegar a casa, depois de ter estado com o M., senti uma necessidade de vir para aqui escrever, porque pelos vistos chorar no carro não foi suficiente. Confesso, que ter alguém de quem gostamos muito, dizer-nos com o ar mais triste do mundo "tu não gostas de mim", deixou-me de rastos. E a conversa final de despedida, junto ao carro, com pingos de chuva a enquadrar, onde dizem, "tu não me estás a fazer bem, preciso de recuemos uns passos na forma como nos relacionamos", deixou-me sem chão. Na merda mesmo.
O M., neste último ano e um mês, tornou-se numa das pessoas mais importantes da minha vida. Tornou-se, no meu melhor amigo, confidente, companheiro de ginásio aos fins-de-semana e parceiro sexual não exclusivo. Era um dos pilares da minha nova vida, que de repente ruiu. Tudo bem, que era um momento que já sabia, que podia/iria acontecer, mas também sempre pensei, de uma forma ingénua talvez, que estava tudo esclarecido entre nós. Mas não estava. Hoje, chegou essa confirmação. A "tal" confirmação.
Para mim, o problema nunca foi o M. Nem era ele que tinha "algum defeito", como muitas vezes dizia. O problema sempre fui eu, e como uma pessoa, que era o amor de uma vida, me transformou nisto. Nesta coisa, que vive o dia-a-dia, à espera de outro dia, de outra semana e de outro mês, como se esperasse a morte. De um ser, que paralisa quando alguma coisa se torna demasiado sentimental, tal e qual, um animal selvagem, que fica imóvel perante as luzes de um carro. Mas a verdade é que continuo aqui. Vivo. Sobrevivo. Mas parece que não quero saber de mais nada. Parece que nada me importa ou que não quero saber.
Não sou hoje, esta pessoa, só por causa de outra. Sou a vítima perfeita de todos os gays, que encontrei no meu caminho sentimental, e que me transformaram num gay, que vive de migalhas. Que se contenta com uns elogios fortuitos, e que tem medo de dar passos, seja em que direção for. Um gay, que não tem amor-próprio e que acha que nunca vai encontrar "melhor". Mesmo quando esse melhor não exista, ou não deva ser visto dessa forma.
Hoje é um dia muito triste para mim, porque perdi o M. e fiquei ainda mais sozinho. Sozinho, numa solidão tão escura, que já não me mete medo. Apenas me revolta e faz chorar. Porque me deixei enredar numa situação durante muitos anos, porque achava que um relacionamento seria assim, e que acabou por me destruir de tal forma, que muito sinceramente, acho que nunca irei recuperar. Continuo a não perceber a gratuitidade das coisas, e como é possível que uma pessoa abuse de outra, ao ponto de a deixar assim. Tão machucada, dorida, ferida e sem futuro, acabando com essa pessoa que dizia amar.
Mas a vida presta. Sim, presta. Para quem ainda tem alguma esperança na mesma. Porque pessoas como eu, apenas vivem o dia-a-dia, à espera de outro dia, de outra semana e de outro mês, como se esperassem a morte.
Espero que desse lado o vosso fim-de-semana esteja melhor que o meu. É isso que vos desejo, até porque acredito, e continuo a acreditar, que o Universo nos devolve, o que lhe damos. Apesar de neste momento, ter algumas dúvidas disso.
Até amanhã.