sexta-feira, 7 de novembro de 2025

constatações

Para mim, a grande novidade disto tudo é: fui eu, que acabei por rejeitar alguém. E não sei lidar com isso, porque fui sempre eu, o rejeitado. Pelo Pedro, pelo Luís, pelo Rui, pelo André, pelo Miguel, e tantos outros, que não vale a pena aqui estar a identificar, porque iria encher um mini-bus com estas personagens todas. 

E o facto de que tudo isto aconteceu com uma pessoa que adoro, e que estava ser super importante nesta fase da minha nova vida, deixou-me mesmo na merda. Não só porque quero ter responsabilidade emocional com os outros - já que nunca a tiveram comigo, mas também porque jurei a mim próprio, que a partir daqueles dias finais de agosto de 2024, que iria ser mais honesto. Comigo. Com os outros. Com o mundo. Custasse o que custasse. E embora sentisse às vezes que o M. não fazia bem o que dizia, sempre lhe disse que não procurava relacionamentos, que não esperasse isso de mim e mais importante, que não estivesse à minha espera. Até porque, como me disseram ainda esta semana, posso até nunca recuperar disto. Não sabemos. A vida é uma incógnita. E neste momento não sei nada da minha vida. 

Durante anos, na minha descoberta sexual, onde já fui hetero curioso, bi e depois gay, conheci muitos gajos que me rejeitaram, e me fizeram crer, que eu tinha um problema físico qualquer. Sempre me achei feio, horrível e odiava ver-me ao espelho. Como se a culpa de ser como sou, fosse minha. Como se tivesse tido alguma opção de escolha sobre o meu corpo, a minha cara, a minha altura ou o que quer que fosse. A cena acontecia sempre da mesma maneira, e acabava sempre com a tirada "do problema não és tu, sou eu", onde eu era "um gajo fixe, mas não dava". Como me disse o Pedro muitas vezes. Demasiadas vezes. 

Claro que aqui, o problema nunca foi o outro lado, simplesmente, eu é que não cabia no ideal de homem do Pedro, do Miguel ou do Luís, porque passadas semanas, lá estavam eles em namoros com os amores da vida deles, e eu na merda. E isso machuca. Diminui. Gera fragilidade. Por isso, ou talvez por isso, resolvi perder a virgindade com o rapaz que fazia o meu ideal de gajo (fisicamente falando, porque ele era mesmo um grande cabrão), porque se era para ser, que fosse com alguém que me desse tusa. E assim aconteceu aos 28 anos. Sexualmente foi bom, mas essa pessoa estava, como sempre esteve, a cagar-se para mim. Também o facto de ser um "bi numa fase transitória", não permitiu mais nada. E eu sabia disso. E aceitei as regras do jogo. Hoje está casado com uma mulher, e tenho sérias dúvidas que seja fiel - desconfio que devem existir gajos por fora. Mas isso também não interessa, não é relevante e não tenho nada a ver com isso. 

Depois, aos 28 anos (quase 29), entrei no meu primeiro namoro, veio o segundo e finalmente o terceiro, que durou uma vida. O resto é história, e quem anda por aqui, sabe-a. Muita coisa se passou nesses anos do último relacionamento, muito drama, algumas alegrias, deceções e esperanças de que as coisas mudassem. Aliás, só assim faria sentido, tendo em conta o "preço que paguei". Mas a realidade ultrapassa a ficção, na maioria das vezes, e aqui chegámos nós, vítimas das nossas próprias escolhas. E das circunstâncias. 


"Para onde vai o amor, quando chega a hora de ir embora?" 

Créditos: 
Canção "Para onde vai o amor" 
Cantada por Inês Gonçalves
Composição: Miguel Cristovinho, Buba Espinho, João Direitinho e Aurora Pinto

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