Recebi uma mensagem através do blogue, que tenciono responder brevemente, que me dizia: "não obstante os teus 44 anos, pareces mais um adolescente, perdido nas próprias franjas do vazio". Embora consiga perceber o ponto de vista, quem é que não se considerava "perdido", mediante um falhanço monumental de um projeto de vida? Quem é que não questionaria tudo, e mais um par de botas, quando percebe que as coisas correram mal? Que as decisões tomadas, acabariam por se tornar erradas, no fim do caminho?
Não sei. Ou melhor, só sei que isto de ser gay, é um caminho penoso. É algo que nos exige sempre demasiada avaliação, e nos coloca uma pressão social, que nem todos têm capacidade para aguentar. Se somos bonitos ou feios, se temos um bom corpo ou não, se temos um determinado estilo de vida ou apenas nos limitamos ao quotidiano baço e invisível. Ao fim ao cabo, vivemos numa constante competição entre nós próprios, os outros, as ideias que temos de nós, e que os outros têm sobre nós.
Ser gay, quase que automaticamente nos "obriga" a ser modernos. A ter relações abertas ou semi. A ter a capacidade de sermos socialmente aceites, e não provocar uma qualquer exclusão, só porque não nos encaixamos nos padrões estabelecidos. Porque aí, seremos sempre proscritos da comunidade. Da importância dos círculos. Do "mercado da carne", que tanto se valoriza em diversos perfis de redes sociais, que republicam as nossas fotografias, e nos fazem competir entre gajos, com o objetivo de lustrar o ego alheio. Será que caminhamos para o vazio das relações entre pessoas? Bem sei - e não vou ser hipócrita - que todos nós gostamos de ser apreciados, gostados, engatados, etc, por terceiros, mas será isso efetivamente saudável? Ou apenas nos derruba, mais tarde ou mais cedo? Ou apenas nos enganamos, porque não queremos morrer sós?
Hoje, no Instagram, ao estar nas parvoíces com um rapaz terrivelmente giro - que já conhecia de vista, dos tempos que ia ao Bairro Alto, em 1842 - fiquei a saber que estava solteiro, após um relacionamento de anos. Acabou por me confessar, que estava desorientado, que os amigos que tinha, eram os amigos em comum, e que sentia um vazio profundo, porque não sabia muito bem como viver a partir de agora. Ou seja, está um pouco... lá está, perdido. Também lhe disse que estava solteiro, desde o ano passado, e que o melhor que ele tinha a fazer neste momento, era dar tempo ao tempo. Fazer coisas. Conhecer realidades diferentes.
Contudo, tudo isto, ainda me reforçou mais as convicções que (ainda) tenho. Ou seja, que todos nós, mais tarde ou mais cedo, acabamos por passar pelos mesmos problemas, pelas mesmas dúvidas, pelas mesmas encruzilhadas. Sejamos nós, terrivelmente giros, ou fora dos padrões que a sociedade nos impõe e/ou exige.
É completamente normal sentir-se perdido em momentos difíceis durante a vida; isso não é um parâmetro para determinar a maturidade de ninguém. Gays têm uma adolescência tardia, devido à homofobia à qual somos submetidos desde a infância. Não nos foi permitido expressar nossa sexualidade de forma espontânea durante a adolescência, nem amadurecer sentimentos e emoções dessa fase da vida, como os héteros. Quantos não deram o primeiro beijo somente na fase adulta, enquanto héteros já namoravam desde a adolescência?
ResponderEliminarVerdade. Eu próprio só perdi a virgindade "completa" aos 28 anos. E ao fim ao cabo, este relacionamento, tendo em conta o tempo que durou, foi o meu primeiro relacionamento sério, apesar de já ter tido dois ex-namorados, que correspondem a namoros de meses.
EliminarE mesmo hoje, aos 44 anos, sinto que não estou pleno na minha sexualidade. Parece-me que me falta ser mais eu, menos focado no que os outros podem pensar de mim. Ou sobre mim.