O M. fez anos este mês e convidou-me para o aniversário dele. Bom, dizer "convidar", é uma forma mais simpática de dizer que praticamente me "obrigou". E eu só fui porque era ele. Porque a minha vontade em sair de casa, é cada vez menor, e se for para sítios onde existam muitos gays por metro quadrado, ainda pior. Não é que fosse o caso, porque era um jantar, num restaurante "familiar", mas a minha cabeça - como sempre - começou logo a viajar na maionese, e teci cenários de "bairros", "Trumps" e coisas conexas. E para isso, não estou disponível. Se é que alguma vez estarei. Não só, porque já tenho 44 anos, e logo, pouca paciência, mas também, porque vivo com uma vergonha permanente do que me aconteceu. Não é que eu tenha de a ter, mas tenho. E muita.
Antes da hora combinada, passei pela casa do M. - onde já estava um amigo, para lhe dar a prenda de anos. Estava com medo, mas ele adorou. Falhei apenas no tamanho do pé, mas nada que não fosse passível de uma resolução fácil. Dali, seguimos para o restaurante, para encontrar o resto das pessoas do M. Como é compreensível, não estava nos meus dias, e ainda estava a digerir algumas das mensagens que tinha recebido momentos antes, sobre que tinham feito isto e aquilo com o meu ex-namorado. Tentei ser simpático, cordial, contar histórias e rir. Por momentos consegui. Por momentos, sai da minha "realidade fatual", e consegui ser aquela pessoa que sou, e não fiquei agarrado à pessoa que me tornei.
Mas ver todas aquelas pessoas que o M. adora, a mostrar afeto por ele, consideração, amizade genuína, agradecimentos profundos por tudo o que ele fez por cada um deles, com um brilho nos olhos, deu-me novamente esperança que ainda existe malta com princípios, e que os gays, principalmente os gays, não são todos uma merda. Aliás, como lhe disse na mensagem que lhe enviei logo de manhã: a tua existência na minha vida, serve para me mostrar que ainda existem boas pessoas, e acima de tudo, faz-me acreditar que não são todos iguais.
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