Bem-vindos a 2025.
Mais uma vez.
Ontem de tarde, fui beber um copo com um amigo. Ao percorrermos as redes, percebemos que um conhecido nosso estava num local, onde costumávamos ir, e dissemos ao mesmo tempo "ainda bem que não tivemos a ideia de ir ali". Foi tão imediato o comentário, que até ficou um ambiente estranho. Como se fosse algo esotérico, sei lá.
Continuámos na nossa, a falar da nossa vida e dramas pessoais, quando o meu amigo resolver mandar umas mensagens mais atrevidas ao tal conhecido, a dizer que estava comigo, e se ele tinha capacidade disto e aquilo, e mais não sei o quê. Como o rapaz nunca me interessou, para além da conversa de circunstância, embora tenta percebido sempre as subtilezas dos convites, sendo que falo com ele nas redes, por cortesia (by the way, ele é casado, mas faz cenas a 3+ com o marido), não dei a devida importância à coisa.
Passados uns minutos, o meu amigo recebeu uma mensagem, e voltou logo o telemóvel. Eu percebi que era do tal rapaz, e perguntei: estás a esconder isso para quê? Ele, um bocado atrapalhado, tentou desviar a conversa, e eu disse-lhe taxativamente: já percebi de quem é a mensagem, o que ele quer? "Ah não interessa, parvoíces", respondeu-me. Fiquei ainda mais em broa, porque percebi que era algo, que ele não queria que eu soubesse/lesse. E voltei a insistir, e insisti, até ele me mostrar o que o outro tinha escrito. Basicamente, era algo do género: "tu sabes que a minha panca sempre foi pelo namorado* dele...". Ou seja, sim, sim, estava disponível para maluquice com todos, mas o objetivo principal foi, e era só um.
Vi a cara de preocupação do meu amigo, porque deve ter pensado que aquilo me iria ferir o ego, ou o caralho. Bom, não posso dizer que fiquei surpreendido, porque não fiquei, e o tal rapaz sempre que metia conversa comigo, eu sabia muito bem que eu apenas era um meio para atingir um fim. E como ele, tantos outros, no passado, tentaram fazer o mesmo. A verdade é que os homens são tão previsíveis, que é fácil apanhar os seus esquemas. Aliás, não havia alguém que dizia que "os homens são todos iguais"? Claro, pensar com a cabeça da pila, deixa-nos sempre básicos na abordagem. Também acho que não podemos criticar ninguém por tentar, porque o ónus ficará sempre da parte de quem é tentado, e cabe sempre ao outro lado, esclarecer e colocar cada um no seu devido local. E esta, era uma crítica que fazia sempre o meu ex-namorado, ou seja, que o facto de ele gostar de ser apreciado, bajulado, engatado por outros gajos, porque isso o fazia sentir vivo, era um problema para mim. Para nós. Porque nunca estabelecia limites, e deixava sempre entrar pessoas em espaços que eram nossos, e que não fazia sentido estarem por lá.
*ele não sabe que acabámos.
Ontem na SIC, vi uma reportagem sobre um esquema, onde sacavam milhares de euros a pessoas, através de um burla bem montada por moçambicanos. Um dos casos apresentados, era relativo a um senhor de 80 e tal anos, que tinha perdido mais de 30 mil euros, porque se "apaixonou" por uma moçambicana - que adotava várias características conforme o diálogo - e queria casar com ela. Conheceram-se no Facebook, e a moçoila era tudo aquilo que o outro lado precisava. Ora era enfermeira, ora estava a precisar de companhia, ora estava doente no hospital, ora afinal era menor, e o senhor se não pagasse não sei quantos euros, iria preso. E melhor de tudo: a pessoa não existia. Óbvio.
Não vou julgar quem foi enganado, até porque sei que a carência afetiva é tramada e todos nós, em maior, ou menor, escala já fizemos coisas estúpidas porque estávamos apaixonados. Encantados. Iludidos. Carentes. Whatever.
Ultimamente, tenho pensado muito nisto, até porque tenho algumas pessoas que me dizem que tenho de arranjar outra pessoa. Mas arranjar como? Tipo obrigação? E como farei a distinção entre um qualquer sentimento ou apenas uma carência qualquer? Sei lá. Não acho que as coisas são sejam assim tão automáticas, rápidas ou fatais. Para mim não são. Nunca foram. E tudo que envolve sentimentos é uma treta. Portanto, cá continuo na minha rotina casa-trabalho-ginásio, às vezes quebrada com amigos e algumas aventuras das quais me arrependo quase imediatamente, e só. Não sei se estou numa fase, assim tão emotiva, que me agarre já a qualquer homem que me apareça à frente, até porque estou tão desiludido com as pessoas, que quero distância do mundo. Mas consigo perceber, e consigo encontrar pontos de toque, com todos aqueles/as que se encontram numa fase da vida, que pretendem partilhá-la com outro/a, e assumo que por vezes apenas conseguimos ler os sinais da forma como os queremos ler, e não da forma que eles são. A propósito do date, do jantar que mencionei aqui, e que referi ter desmarcado, a pessoa mostrou-se preocupada comigo e voltou a perguntar-me se não estava disponível para algo mais que uma amizade - mesmo quando já lhe tinha dito que não. Claro que expliquei, de uma forma muito sucinta, o que se tinha passado comigo, em que fase estava e o porquê de querer só apostar em amizades neste momento. Acho que a pessoa acabou por ficar desiludida com o que leu, e talvez tenha percebido que a "vibe é só de amizade", era mesmo uma "vibe só de amizade", e portanto deixou de interagir. Compreendo. Mas eu fui honesto com ele, desde o primeiro dia que se avançou com convites. Não iludi. Não menti. E não deixei a coisa avançar no vácuo.
Claro que sobre os casos denunciados na reportagem acima mencionada, a história cheirava a esturro desde o primeiro minuto, mas quando nos sentimos mais frágeis é quando as coisas acontecem. E por mais atentos que estejamos, há sempre um risco real de cometermos erros. De não querermos ouvir as nossas pessoas, que estão fora do enredo, e portanto, conseguem ver as coisas com outros olhos. Que conseguem produzir uma análise fria, isenta e capaz de nos salvar de fazer (mais) merda. E mesmo sabendo isto, nos momentos (mais fortes e mais fracos) do nosso percurso humano, porque é que existem vezes, que vamos em frente, mesmo sabendo que vamos embater com a tromba numa parede e ficar feridos?
Acho que nunca baixei tão rápido as calças a um homem como ontem.*
*A fazer um Raio X e por indicação médica.
"Conheci" esta canção num especial da BBC sobre a Eurovisão. Embora velho, em 1985, tinha 5 anos e sabia lá eu, o que era a Eurovisão - sim, já fui, miúdo, jovem, adolescente, trintão, etc. A verdade, é que nos últimos tempos, tenho adorado conduzir ao som desta canção das Bobbysocks, que ficou em primeiro lugar no festival, precisamente em 1985, representando a Noruega. Não sei, transmite-me tanta energia positiva, que apenas consigo sorrir, e fingir que sei norueguês, quando tento cantar a versão original.
Portanto, andei meses a fingir que tinha "estudos", e que falava um norueguês fluente, principalmente nas partes onde era cantado "melodier", "fantasier" e "rock'n'roll". Mas a realidade, é que não sabia nada do que estava escrito na letra, e desconhecia totalmente, a sua mensagem. Portanto, por mim, podiam-me estar a mandar à merda, ou a dizer-me que sou um idiota, que nada disso importava. O que era essencial para mim, era a sensação que a canção me transmitia. Os tais "feelings" que falava Salvador Sobral. E sobre isso, "apenas" ficava feliz.
Ao descobrir a versão desta canção em inglês, e a tradução da sua letra da tal língua que "dominava", fiquei espantado com a correspondência com a fase atual da minha vida. Continuo a acreditar, que não há coincidências, e que "lá em cima", existe algo, alguém, alguma coisa, que nos manda sinais, que nos espicaça, que nos empurra na direção certa, mesmo quando no momento, pensamos que tudo está errado, que mais vale atirar a toalha ao chão ou apenas desistir de viver - e passar a um modo mecânico de rotina quotidiana. Só sei, e apenas sei, que nesta fase dos 44 - quase 45, depois de tudo o que passei desde sempre, já me podia ter tornando numa pessoa má, vingativa, um filho da mãe sem escrúpulos, uma pessoa asquerosa, que apenas quer o mal dos outros, só porque sim. Mas não. Por mistérios da vida, estou a conseguir conservar a decência, a honestidade, a alegria e a capacidade de me preocupar com os outros. Talvez a inocência de criança, ainda arda em mim, com o objetivo de evitar que me torne numa pessoa horrível. Talvez. Nunca o saberemos.
Há 15 anos, andava interessado num rapaz do ginásio. Era giro, tinha um corpo fixe, dizia umas piadas, e dava-me corda q.b. (bola, etc). Isto tudo, proporcionalmente à sua estupidez, enquanto pessoa. Saímos uma vezes para a praia, beijámo-nos no carro, e pronto, andava iludido, vá.
Uma noite, saí com o NA para o Trumps, e estava lá a admirar a fauna e flora local, quando vi o tal rapaz. O meu pescoço ganhou dimensão, abri os olhos, como se estivesse a dizer "estou aqui, pah", e esperei. Ele viu-me, segredou qualquer coisa para a pessoa com quem estava, essa pessoa olhou para mim com um ar de desprezo, agarrou o rapaz e começaram-se a beijar/comer à minha frente, fazendo questão que eu visse. Que ficasse incomodado. Que saísse da pista de dança. Percebi mais tarde, que essa pessoa, de sobrenome qualquer Perdigão, estava super interessado no mesmo rapaz que eu e achava que namoravam. Seja como for, foi desnecessário. Foi triste. Deixou-me derrotado nessa noite. E fez-me odiar os gays. Talvez um pouco como hoje. Mas seja como for, começo a ver aqui um padrão. Ou como diz a minha psicóloga: "já vi que tem um tipo de homem". Yeap. Confirmo. Os cabrões.
Não me considero católico, mas fui educado na cena. Acho que já fui agnóstico, ateu, e mais um par de coisas, mas desde que fui à Terra Santa, e visitei locais históricos - e comprovadamente históricos - assumi para mim mesmo, que sou um Cristão-Histórico-Crente. Ou seja, acredito que as pessoas mencionadas nalgumas partes da Bíblia, existiram mesmo, independentemente dos seus feitos, sendo que aquilo que mais interessará, é que aquelas pessoas tentaram sempre mostrar-se disponíveis para o próximo, para ajudar o próximo, para entender o próximo, para levantar o próximo, para não deixar o próximo cair numa espiral destrutiva, e mostrar que apesar das diferenças, somos todos iguais. Com fraquezas. Com erros e acertos. E que isso não deve invalidar-nos de forma alguma, porque seremos sempre um somatório das coisas boas e das coisas más.
A mim, não me interessa saber, se a água foi transformada em vinho, ou se a cura de uma patologia foi um milagre ou não. A mim, o que importa saber, é que haverá sempre pessoas boas, pessoas que se interessam, pessoas que apesar de tudo, conseguem ver nos outros, coisas boas. E isto, colide com o que acredito verdadeiramente: faz aos outros, aquilo que gostariam que te fizessem. Porque um gesto bonito, gera outro gesto bonito. Um sorriso provoca outro sorriso. Um obrigado cria uma sensação de realização. E uma disponibilidade nunca se esquece.
Assim, considero, que a pessoa que hoje morreu, líder de uma das maiores religiões do mundo, e de seu nome adotivo, Francisco, pensava um pouco assim. Era muito assim. Não se limitava a propagandear os cânones católicos, mas alertava para o óbvio. Para a nossa essência enquanto humanos. Para as nossas fragilidades, mas também para as nossas forças. Puxando por tudo aquilo que temos de melhor, mas criticando sempre que fosse necessário. Evidenciando, por vezes, a nossa falta de empatia com aqueles que nada têm, ou elogiando aqueles que simplesmente dão, mesmo que isso implique repartir o pouco que têm. De notar, os seus apelos mais sinceros, dos grandes aos pequenos gestos, puxando por vezes as orelhas àqueles que produzem a crítica fácil sobre os outros, mesmo desconhecendo a sua história ou percurso. Ao fim ao cabo, era parte da nossa consciência coletiva. Hoje morreu, acima de tudo, um homem bom. E é isso que devemos relembrar, daqui para a frente.
A pessoa faz match com outra pessoa no Tinder. A pessoa diz olá e deseja uma Boa Páscoa. A pessoa bloqueia a outra, e não se sabe bem o porquê. Ainda bem que os gays não mudaram nada desde 2010. Ou melhor, mudaram. Estão mais divas, mais parvos e mais idiotas.
Ainda assim, boa semana para todos.
Sim, hoje estou aqui a fazer cenas várias, mas contrariado.
Nunca tive fetiches por profissões (acho!), mas que este bombeiro, levava-me ao altar. Ai levava, levava. Ao altar e não só. A Bali. Às ilhas Phi Phi. E à minha cama - AHAHAHAH. Tenho uma alta crush por ele, e sigo-o religiosamente (dizem que a malta com a idade, começa a voltar-se para a religião... e eu já sou velhinho), nas redes sociais. Ter os olhos claros ajuda... bom... e o resto também. Aquele corpinho... ui ui. Só espero que não seja homofóbico. Porque já tenho o plafond das desilusões esgotado até 2089.
Continuo a usar o Tinder, principalmente quando estou na casa de banho. Ao invés de ler uma revista de consultório, perco tempo a arrastar para um lado, depois para o outro. Há uns dias, dei match com um rapaz, mas como depois não ligo muito àquilo, porque vou respondendo com a mesma frequência que acontecem as Festas da Nossa Senhora do Cabo - ou seja, de 25 em 25 anos, pensei que iria ser, como é sempre. Ou seja, a interação acabava por morrer ali, de forma natural, como tantas outras. Aliás, nunca conheci ninguém ao vivo através daquela aplicação. Mesmo assim, e não sei como aconteceu, o rapaz convidou-me para jantar na próxima terça-feira. E eu fiquei amarrado a um sim, muito pouco convincente.
Parece-me estruturado, tem duas profissões e 39 anos... e correndo o risco de ser básico, "o problema não é ele, sou eu". Isto é, não estou com a mínima disponibilidade mental para dates... e tive que reforçar a ideia que "só procuro amigos, amigos e nada mais que amigos" - em linha com o que tenho escrito no meu perfil, para ver se a cena acabava por si só. Mas não, ele agradeceu o aviso e perguntou-me se preferia jantar em Lisboa. Merde. Não se como se vou safar desta. É que não estou mesmo com vontade nenhuma, só me apetece estar em casa. Sozinho.
Cada vez mais, tenho menos vontade em sair de casa. Não sei. Não tenho grande vontade de estar com pessoas, ver pessoas, interagir com pessoas, falar com pessoas, assim-e-coiso, pessoas no geral. Contudo, hoje, domingo, acabei por sair. Não só, porque já tinha combinado com o M. faz semanas, mas também, porque tinha os bilhetes do teatro comigo.
E assim foi, fomos ao teatro. Rimos imenso. E senti, mais uma vez, aquele interesse subtil, mesmo quando ele me contava, que estava mal de amores por um rapaz do ginásio. Não sei. Apesar de ele me dizer mil vezes, que somos amigos e pronto, eu fico sempre nervoso com a situação, e ando sempre a desviar a minha boca da dele. Se somos amigos, não quero que as coisas fiquem demasiado confusas. Para mim. Mas especialmente para ele.
Acabámos de ver a peça de teatro, demos uma voltinha pela cidade e acabámos a jantar no "American Disaster". Vi por lá um rapaz que sigo no X, que estava com uma crush, e fingi não o ter visto. Não, porque estivesse com vergonha de alguma coisa, mas porque achei que iria parecer demasiado intrusivo. Demasiado confiante, de que poderia falar a alguém, com quem troquei apenas uns tweets, numa qualquer rede social. Também acho que ele não me reconheceu, e acho que foi o melhor. Para ambos.
Quando o rapaz e o crush dele saíram do restaurante, o M. perguntou-me:
- Aquele não era o não-sei-quantos-do-x?
E eu respondi:
- Sim, era ele sim.
E ele retorquiu:
- Ele mete lá a vida toda dele.
E eu fiquei... pois. Ainda bem que o M. não sabe que tenho este blogue. E acho que nunca lhe vou contar… não porque tenha problemas com isso, mas porque não quero perder aquela cena, que é minha, só minha e onde posso ser eu, e apenas eu.
Apesar de tudo, foi um bom domingo. Foi um dia feliz. Um dia que fugi da minha realidade de merda. E sentado na mesa do restaurante, a olhar para o Marquês de Pombal, e para o pôr-do-sol no topo do Parque Eduardo VII, pensava: onde está aquele rapaz de outrora, que apesar de ter medo de tudo, já sabia que era gay, que sonhava, e que acreditava nas pessoas? Estaria apenas adormecido ou morto de vez?